Retomo um conto antigo. Era uma vez um jovem cavaleiro que passeando nos arrabaldes de Paris se aproximou daquilo que parecia ser uma enorme construção. Desceu do seu cavalo e perguntou a um dos trabalhadores o que estava a fazer. Ele largou o martelo com que estava a partir pedras e respondeu: “estou a trabalhar para sustentar a minha família”. O cavaleiro pensou para si que era uma resposta correcta e um propósito louvável.
Poucos metros depois, o jovem cavaleiro voltou a fazer a mesma pergunta a outro trabalhador. A resposta que recebeu foi: “estou a aparelhar uma pedra de acordo com as ordens que recebi”. O cavaleiro continuou a sua caminhada pensando que se tratava duma resposta tecnicamente correcta e duma atitude perfeitamente aceitável.
Já no interior do perímetro da obra, o cavaleiro decidiu repetir a questão a um homem que transportava uma grande pedra já trabalhada. Ele parou, olhou-o, sorriu, encheu o peito de orgulho e disse como se estranhasse a sua pergunta “ não vê que estou a construir a catedral de Notre Dame”. O cavaleiro refletiu e concluiu “aqui está alguém que sabe verdadeiramente o que está a fazer”.
Esta pequena “estória” podia perfeitamente ser transposta para qualquer empresa dos nossos dias e serve apenas para ilustrar um dos grandes problemas de gestão das organizações actuais: A falta de consciência do objectivo para o qual trabalhamos.
Nas empresas atuais, colocados perante a pergunta “o que está a fazer” muitos empregados responderiam honestamente que estavam a trabalhar para ganhar a vida. Esta resposta é sintomática dum divórcio dos objetivos da empresa e também de algum desinteresse pela função em si, o que, como é fácil de se inferir, tem consequências muito negativas não só ao nível da felicidade das pessoas como também dos resultados alcançados. Infelizmente, penso que a grande maioria daria este tipo de resposta.
Alguns dariam a segunda resposta. É tecnicamente correcta e evidencia uma preocupação com a função, mas continua a indiciar o desconhecimento dos objectivos da empresa. Qualquer trabalhador leva para a empresa todos os dias aquilo que de melhor tem para dar: A sua energia e a sua criatividade. Aproveitar apenas as suas competências técnicas, mesmo que devidamente enquadradas por “ordens recebidas”, deixando de parte o “talento” de cada pessoa, é não aproveitar a maior riqueza das empresas.
A terceira resposta seria, provavelmente, dada apenas por muito poucos e estes, muito provavelmente, seriam “membros” de organizações que já perceberam verdadeiramente a importância do chamado (embora o nome me pareça redutor) Capital Humano e já investiram em formas de o cativar e alinhar com os seus objetivos.
Este tema é nos tempos que correm ainda mais importante porque a maioria dos “millennials” (87% segundo a PWC) é fortemente “purpose driven” e acreditam que o sucesso duma empresa não deve ser medido em apenas em termos financeiros. Um sentido de propósito claro e partilhado pode ser determinante na sua atração, e decisivo no seu compromisso e “lealização”.
Talvez por isso, as melhores empresas passaram a valorizar e a comunicar o seu propósito e alguns dos grandes gestores mundiais se considerem, antes de qualquer outra responsabilidade, ser “Chief Purpose Officers”.
Pense nisso!
José Bancaleiro
Managing Partner
Stanton Chase Portugal – Your Leadership Partner
Artigo publicado na edição de dezembro da revista Human Resources Portugal.