Empreender

Acredito que o empreendedorismo e inclusivo (todos somos empreendedores) e não exclusivo (uns são e outros não). Empreendedor é o empresário que cria um grupo de empresas, mas também o cozinheiro que gera uma linha de receitas inovadoras, o gestor que investe numa nova área de negócio ou ainda o autarca que “faz obra” na sua Câmara. Ser empreendedor é “gostar de fazer coisas”.

Os primeiros sinais da minha veia empreendedora surgiram muito cedo. Teria eu cerca de cinco anos quando o meu pai me deu um conjunto de peças, velhas e com mau aspeto, que se pareciam vagamente com os componentes duma bicicleta. Sei que ele as tinha comprado por um valor que hoje ficaria muito longe de metade de um euro a um amigo que as tinha encontrado numa “esterqueira” municipal.

Depois de alguns entusiasmados dias de limpeza, pintura e montagem construí a partir daquelas peças a minha primeira bicicleta. Rodas à minha dimensão, elegante, sóbria, pintada (a pincel) de uma cor de laranja forte, enfim . . . linda. É verdade que de comum com as bicicletas das crianças de hoje tinha apenas o essencial: duas rodas, guiador, pedais e corrente. Faltava-lhe, para além das sofisticações dos modelos atuais (sistema de mudanças, suspensões, etc.), alguns componentes básicos duma bicicleta normal, como os pneus, criativamente substituídos por umas tiras de borracha colocadas dentro dos aros, e os travões, o que me obrigava a travar colocando o pé na roda da frente, originando frequentemente a saída das tiras de borracha, para além de algumas quedas de somenos importância.

Apesar destas (pequenas) limitações, a minha bicicleta foi um enorme sucesso. Sendo a primeira que surgiu entre o meu grupo de amigos, rapidamente se tornou no centro de atração e desejo dos meus colegas e amigos. De tal forma, que eu comecei a pensar que tinha ali um “produto inovador” e um “mercado com um enorme potencial”. Daí até criar o meu primeiro negócio foi um pequeno passo.

Não creio que tenha feito um “business plan” muito detalhado, nem pensado muito no posicionamento estratégico do produto, mas tive alguns cuidados com a política de preços. Se bem me lembro, tudo estava perfeitamente definido em termos do tempo da “volta” e do respetivo preço a cobrar. O pagamento podia ser feito em “tostões” ou em cromos da bola,

havendo uma não muito consistente política de descontos para amigos, que variava em função das zaragatas em que nos íamos metendo. Seja como for, a bicicleta foi (enquanto resistiu) um investimento com um magnífico retorno, financeiro e não só. O meu prestígio e importância no grupo cresceu enormemente.

Sintra, 20 de Março de 2012 José Bancaleiro

*NOTA: Texto escrito para integrar o Capítulo de Patrícia Jardim da Palma, no livro “Comportamento Organizacional no Sec. XXI” – Pag. 235 e seguintes. 

 

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